quarta-feira, setembro 07, 2005

O grande Colón

Só para variar um pouco, nosso terceiro dia em Buenos Aires começou preguiçoso e com um monstruoso café da manhã para comprovar mais uma vez que nós éramos filhos de Deus e que não estávamos nem aí com nada nem com ninguém.
Era nossa lua de mel e a única regra era dormir e curtir.
Não me lembro bem a que horas decidimos conhecer o Teatro Colón e o Congresso Nacional. O fato é que saímos caminhando pela rua Tucumán até que chegamos à Avenida Nueve de Julio. Como sempre, o obelisco estava lá para nos saudar e logo ali, o teatro também se mostrava, bem pertinho da rua.
Demos uma olhada na fachada e na entrada frontal e depois seguimos pela lateral, na direção para onde apontavam as placas indicando as visitas guiadas.

Decidimos que valia a pena entrar no teatro com a tal visita guiada, mas como ainda queríamos conhecer um pouco mais do centro, compramos bilhetes para a visita que aconteceria dali a quase duas horas.
Seguimos caminho pela lateral do teatro até a praça na parte de trás.
Lá encontramos o prédio dos Tribunais e um monte de prédios menores com placas de advogados e coisas jurídicas.

O objetivo daquela caminhada era o Congresso Nacional e por isso seguimos caminhando, admirando os prédios antigos e nos misturando à massa portenha que ia e vinha comendo alfajores e vestindo camisas do Boca e do River.
A sola que gastamos pelo Congresso valeu a pena. O lugar tinha um capitólio que lembrava a sede de um certo governo mais ao norte, mas isso não serviu para estragar a boa imagem que ficou na memória.
Acabamos assistindo a uma pequena manifestação em frente ao prédio, mas nada ali saiu do normal e da calma que havíamos encontrado até então. Algumas faixas, um povo reclamando e nada mais. Coisa normal para o mundo de hoje.

A volta para o Colón foi por um caminho um pouco diferente do original. Decidimos sair das vias principais e acabamos nos deparando com a igreja de Nossa Senhora da Piedade, mas não conseguimos entrar por que havíamos gasto tempo demais caminhando e admirando o Congresso e nossa visita a teatro aconteceria dali a pouco.
Caminhamos apressados e conseguimos chegar apenas alguns minutos antes do início da visita.

A correria foi muito bem recompensada. O lugar era muito bonito e parecia que cada pedacinho de mármore e cada acabamento de madeira podiam nos contar uma história diferente sobre a música e a vida daquela cidade.
Como não poderia deixar de ser, a guia caprichou no nacionalismo e não perdeu a oportunidade de dizer que o teatro tinha uma das melhores acústicas do mundo e que só poderia ser superado por "templos sagrados" como o Scala de Milão e a Ópera de Paris. Dava até para acreditar nela, mas não dá para perder a piada.

Uma das partes mais legais da visita foi a descida aos talleres, oficinas onde são produzidos todos os materiais utilizados nos espetáculos, da roupa até a cenografia. Parecia uma fábrica de arte, com um monte de gente martelando, pintando e serrando.
Também vimos alguns ensaios de orquestra e dos corpos de baile.
Terminamos a visita tirando fotos no salão principal e pensando se o Municipal de São Paulo se parecia de alguma maneira com aquele lugar.
Pensei isso por que, assim como muitos dos meus vizinhos paulistanos, nunca tive a iniciativa de visitar o teatro por dentro. Quem sabe aquela visita servia de incentivo?

A fome já estava apertando e por isso não foi muito complicado seguir pela Nueve de Julio até o seu início (ou seria o seu final), para chegar até um restaurante que havíamos visto no guia. Não poderíamos ter sido mais recompensados.
O Centro Vasco-Francés era um clube antigo e com decoração bem austera, mas o seu restaurante era maravilhoso e nos serviu o melhor lomo (filé mignon) que havíamos comido até aquele momento de nossas vidas. Um molho divino, uma carne macia e saborosa e um vinho muito bom nos fizeram querer ficar ali para o jantar, para o café e para o almoço do dia seguinte.
Infelizmente tínhamos que voltar e havia uma longa caminhada até o conforto do hotel.

Desta vez não perdemos a oportunidade de visitar a igreja de Nossa Senhora da Piedade e novamente fomos recompensados.
O lugar era muito bonito, bem cuidado e praticamente vazio. Aproveitamos para relaxar, orar e agradecer por tudo que estávamos vivendo até aquele momento.
Não tínhamos hora para voltar para casa, por isso ficamos um bom tempo sentados nos bancos e admirando o teto da igreja. Eu tirei algumas fotos, minha mineira fez a tradicional oração e os pedidos de quando se entra em uma igreja pela primeira vez e retomamos o caminho da roça de volta ao Claridge.

Os sapatos foram as primeiras coisas que voaram logo que chegamos ao hotel.
Nos deitamos em cima das cobertas, ligamos a TV e começamos a adormecer e a curtir nosso merecido relaxamento.
Felizmente a Globo Internacional não exibia nada de interessante naquele momento, apenas propagandas voltadas para os brazucas da Miami e chamadas das "novas grandes sensações" da música mundial, coisas como Ariana, Roney e Rangel e Paulo Cesar e Daniel.
Como nunca ouvi falar desse povo, imagino que eles só sejam conhecidos nos States e por um seleto público que inclui a mãe e os vizinhos.

Depois do banho e do soninho rejuvenescedor, inventamos de conhecer o Shamrock, um pub irlandês onde a juventude portenha ia para encher a lata e bater papo.
Infelizmente o lugar era cheio e acelerado demais para nós, pobres turistas brazucas, por isso matamos as nossas Buds e corremos para um lugar mais calmo, o belo e estiloso Bar Uriarte, com uma bela cozinha logo na entrada e uma comida correta mas nada espetacular.
Já calmos e saciados, pegamos um táxi de volta para o hotel e fechamos os cansados olhinhos.
O dia seguinte seria a vez das áreas verdes e tínhamos que estar em forma para não abrir o bico e estragar o passeio.

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