segunda-feira, setembro 05, 2005

Para vencer preconceitos

Passar a lua de mel na capital dos argentinos tem muito significado para a vida deste pobre escriba.
Primeiro por que nasci no Chile e moro no Brasil, o que me dá uma dupla tendência a não ir muito com as fuças de quem vem da região entre os Andes e o Rio da Prata.
Depois por que lua de mel deve ser uma vez só e tudo precisava sair bem logo de cara.

Foi mais ou menos com esse espírito que acordamos às 5 da manhã e pegamos o mesmo táxi que havia nos trazido de Congonhas no dia anterior. Achamos melhor combinar assim para não correr o risco de lidar com um atraso.
Acabamos chegando quase 3 horas antes do vôo, mas demos um jeito de preencher o tempo e tomamos o vôo JJ8000 da TAM rumo a Buenos Aires. Com o atraso de sempre e com quase nenhuma turbulência, chegamos à capital portenha.

Logo de cara começamos a lidar com a idéia da confusão típica de viagens ao exterior já que os carregadores de mala do aeroporto estavam de greve, mas não demoramos muito mais do que o normal para pegar nossas malas, passar pela imigração e encontrar o rapaz da CVC que viria nos buscar.
Poucos minutos depois de identificarmos o rapaz (uma plaquinha amarela da CVC ajudou bastante) já estávamos a caminho de Buenos Aires e do nosso hotel, base de operações para a aventura portenha.

Eu já conhecia o Claridge de outros carnavais (três dias de trabalho em 97) e encontrá-lo novamente foi bem nostálgico, principalmente por que tudo parecia exatamente igual.
Do estilo inglês da arquitetura aos uniformes impecáveis dos funcionários era tudo como eu (mais ou menos) me lembrava, o que era garantia de conforto e segurança quando quiséssemos descansar a carcaça.

Como já passava da hora do almoço, deixamos as coisas no hotel e fomos atrás de um lugar que eu também havia conhecido em 97 e que havia me proporcionado momentos muito bons de êxtase gastronômico.
O La Estancia ainda estava no mesmo lugar, ali na La Valle quase esquina com a Nueve de Julio, o que nos permitiu uma caminhada leve antes de partir para a engorda.
Mais uma vez estava tudo como eu havia deixado e quase não conseguimos voltar para o hotel de tanto que comemos e bebemos. Foi uma ótima introdução aos prazeres da culinária porteña.
E foi nesse mesmo templo de adoração ao entupimento de coronárias que tivemos nossa primeira experiência com a solidariedade dos viajantes: um casal de gaúchos estava sentado atrás de nós no restaurante e, depois de uma conversa cordial à espera das respectivas contas, nos deu a dica do show de tango do tradicional Café Tortoni.

O tal Tortoni tinha fama de ser o café preferido de Borges e de Gardel e havia algumas mesas reservadas apenas para esse tipo de cliente ilustre.
Como não somos tão ilustres, saímos da Estancia e percorremos a Nueve de Julio a pé, até chegarmos às Calle de Mayo, onde ficava o Tortoni.
Infelizmente não conseguimos ingressos para o show das 20:30hs, mas comemoramos muito nossa garantia para assistir o show das 22:00hs. Afinal de contas, era nosso primeiro dia na cidade e não queríamos desperdiçar nenhuma chance de conhecer coisas legais e típicas da terra.

Do Tortoni, fomos até a Plaza de Mayo e visitamos a Catedral Metropolitana. Apreciamos a beleza do lugar, fizemos algumas orações, registramos um pedido pela Fernanda e sua cruzada pela maternidade e voltamos para o hotel caminhando pela San Martin até a Tucumán. Isso nos permitiu fazer a digestão como se deve e relaxar gostoso na cama macia do Claridge.

O show do Tortoni era o completo oposto daquele que havíamos comprado (Esquina Carlos Gardel) e do emocional e turístico Señor Tango. Isso se refletia no preço (25 pesos por pessoa) e na capacidade da sala de shows: acho que não cabiam mais do que 50 pessoas na sala apertada e sujeita a prejuízos para quem tivesse o azar de se sentar atrás de algum Harlem Globetrotter.
Mesmo assim, gostamos muito do malabarismo do casal de dançarinos, da simulação de malandragem que o grupo passava e da sensação de estarmos fazendo um programa mais apreciado pelos locais do que pela massa de turistas, principalmente depois de darmos uma canjinha em "Por una cabeza", cortesia dos cantores que desceram do palco e incentivaram o público a cantar tangos de grande sucesso.

Voltamos para o hotel de alma lavada e de estômago cheio.

No dia seguinte seria a vez do city tour e do primeiro contato com o mítico La Bombonera.

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