terça-feira, agosto 31, 2004

Até a Fumaça

Nossa rotina nesse dia começou como sempre: acordar, tomar banho, arrumar a mala, tomar café e deixar o quarto.
A diferença é que naquele dia enfrentaríamos o trecho mais complicado até o momento: a subida até a Cachoeira da Fumaça.

Saímos da Pousada Verde mais ou menos às 09:00 e seguimos para o pé do morro. Antes de começar a subir, paramos na casa de controle da subida e nos registramos. Éramos os primeiros caminhantes do dia e isso nos rendeu uma pequena comemoração e um brinde com água mineral. Não era Perrier, mas valia.
Enquanto brindávamos, vimos várias pás e outros equipamentos meio rudimentares que o pessoal usava para combater os numerosos incêndios daquela época do ano. Deu para ver que a vida daquele povo não era nada fácil já que os incêndios eram praticamente uma instituição local utilizada para renovar os pastos e alimentar o gado.

A tal subida era um pouco pior do que eu imaginava: 2 km de uma verdadeira escadaria natural, com "degraus" dos mais diversos tamanhos, formas e cores. Como era de se esperar, os franceses subiram a uma velocidade alucinante (ao menos para os nossos padrões) e nós ficamos para trás mais vezes do que tenho coragem de registrar.
Ainda bem que eles não eram estressados e entenderam que nossa energia havia terminado no jantar da noite anterior. Naquele momento nós só dependíamos da "raça".

Em um das paradas para água e descanso aproveitamos para curtir a vista do Vale do Capão, uma região no lado oeste do Parque Nacional e que atraía um monte de trilheiros e aventureiros. O Michel nos contou um pouco da história do lugar e ficou empolgado quando mencionou o trekking do Vale do Pati, um pouco mais ao sul de onde estávamos. Só de ouvir a descrição dos cinco (!!!) dias de caminhada, já me deu vontade de voltar ao hotel e me enrolar nas cobertas.
Como isso não era uma opção, botei novamente a mochila nas costas e continuei judiando dos meus joelhos.


O Vale do Capão Posted by Hello

Terminados os dois primeiros quilômetros, a trilha vira uma verdadeira maravilha: poucas ondulações, estrada demarcada e muitas paisagens para alimentar as estórias de trilhas.
Pudemos ver os restos de um incêndio que havia atacado boa parte daquela área e que deveria dar muito trabalho ao povo da brigada lá no posto de controle.

Depois de mais quatro quilômetros, finalmente chegamos ao rio que alimenta a Fumaça e que faz dela a maior queda de água do país. Naquela época do ano, o rio estava praticamente seco e as poucas gotas que despencam do precipício não mereceriam o título de cachoeira.
O curioso disso e que só nessa época é possível atravessar o rio e ter acesso à plataforma de pedra que avança no céu e permite uma das visões mais espetaculares que tive na vida. Quando o rio está cheio, não dá para chegar até o outro lado e o turista tem que se contentar com a fotografia da água caindo.
Acho que foi uma boa troca já que vista lá da plataforma era realmente espetacular.
Para meu nervosismo e inquietude, a minha mineira se apaixonou pela vista da plataforma e não queria mais sair daquele lugar que era até um pouco inclinado para baixo, só para aumentar a sensação de que a distância entre a gente e o chão podia ficar mais curta a qualquer momento.


A vista desde a Cachoeira da Fumaça Posted by Hello

Um almoço de trilha e um papo em inglês sobre música francesa e brasileira depois, lá estávamos nós de mochila nas costas novamente rumo à pousada.
Eu esperava que o caminho de volta fosse mais fácil já que não tínhamos mais tantas ondulações e trecho final seria em descida.
Só Deus sabe como eu estava enganado!
Foram justamente os últimos dois quilômetros que exigiram mais da minha carcaça combalida e dos meus músculos em frangalhos.

Já de volta à pousada, tratamos de descansar, nos refrescar e trocar contatos.
Fiquei de mandar as fotos tanto para o Michel quanto para os franceses e para isso me armei de e-mail e endereços. Acho que vai ser uma ótima recordação.


A Pousada Verde Posted by Hello

Antes de nos levar para Lençóis, o carro que nos pegou no Vale do Capão parou no Morro do Pai Inácio. A idéia era encerrar com chave de ouro aqueles dois dias que ficariam na nossa memória para sempre.
Essa idéia não poderia estar mais certa e meus sonhos não poderiam ser mais modestos em relação à realidade.
A vista que tínhamos à disposição era nada menos que espetacular e nem o vento gelado que teimava em bater lá em cima do morro nos impedia de ficar de boca aberta sempre que mexíamos a cabeça e focávamos outra parte da Chapada.


A Chapada Diamantina Posted by Hello


Mais da Chapada Posted by Hello


O outro lado Posted by Hello

Até mesmo quando o guia local nos contou a estória do nome do morro e a gente ficou sentado durante uns 10 minutos, nossa animação permaneceu alta.
Faltava só o famoso pôr-do-sol, mas o cansaço e o medo de rachar a cabeça descendo do morro sem luz natural nos fez decidir pelo abandono do lugar e pelo rápido retorno a Lençóis.
Antes de descer, uma demonstração da perfeição da natureza ao deparar com uma pedra que era uma réplica quase perfeita do Morro do Camelo, visível ao longe.
A foto foi obrigatória e acho que o efeito funcionou


O camelinho e o camelão Posted by Hello

Acho que todos tínhamos na cabeça a idéia de largar as malas, tomar um banho e dormir até a semana seguinte, mas eu ainda tinha uma missão a cumprir: os franceses haviam saído da pousada e precisavam de um lugar para tomar banho e descansar antes de tomarem o ônibus para Salvador, dali a um par de horas.
Não querendo deixá-los sozinhos, lá fui eu até a pousada para tentar negociar um preço menor apenas para o banho e o sofá.
Como a dona do lugar quis cobrar um preço ainda maior do que o que eles tinham pago por dois dias, tivemos que ir até a casa dos guias da Venturas para buscar ajuda.
Felizmente o clima era de solidariedade e os franceses foram muito bem recebidos.
Me despedi deles, lhes desejei sorte e voltei para casa com a sensação de missão cumprida.

De volta ao Canto da Águas tomei um banho, relaxei um pouco e espereia fome bater.
Quando ela veio forte, resolvemos nos arriscar no Artista das Massas.
Não nos arrependemos pois saboreamos um belo prato ao som do cool jazz de Chet Baker.
A casa permite que os clientes escolham o tipo de jazz que querem ouvir enquanto comem e como não havia mais ninguém lá, nos sentimos os donos do lugar.
O único senão foi o fato deles não venderem cerveja e refrigerante.
Nos satisfezemos à base de chá e suco, mas não reclamamos de nada.

Voltando para casa, decidimos que não valia a pena enfrentar a estrada novamente no dia seguinte. Valia mais a pena passar mais um dia em Lençóis e só começar a voltar quando estivéssemos inteiros.
Era mais um atraso na programação, mas valia a pena.

segunda-feira, agosto 30, 2004

Distância

Acho que esqueci de mencionar que nosso primeiro dia de trekking rendeu 12kg de terra, suor, sol e cansaço.
Também esqueci de reforçar que valeu a pena passar por cada centímetro do caminho.

Que venham mais 12!!!

O primeiro trekking

Novamente o dia começou com o maravilhoso café da manhã do hotel e com o encontro na loja da Venturas. Fomos para lá depois de acomodar direitinho as malas e encher a mochila com as coisas básicas para sobrevivermos por dois dias caminhando no parque.
Além da mochila, também preparamos uma mala pequena que seria levada até o lugar onde passaríamos a noite.
Chegando à pracinha central de Lençóis encontramos o guia Michel, o Terra (dono da Vanturas local) e o casal de franceses que nos acompanharia, o Thomas e a Céline.
Não tínhamos muita certeza se conseguríamos nos dar muito bem com eles, mas também não tínhamos escolha, portanto, embarcamos na Rural com fé que tudo daria certo.

A idéia inicial era visitar o Morro do Pai Inácio logo de cara e depois fazer o trekking, mas o Michel e o Terra acharam melhor deixar isso para o dia seguinte, para que pudéssemos apreciar a vista geral da Chapada enquanto o sol se punha.
Desde antes de chegar a Lençóis nós sabíamos que esse pôr do sol era uma das grandes atrações do local, por isso topamos felizes a mudança.
Sacolejamos um pouco até as proximidades do Pai Inácio e de lá partimos em nossa caminhada. O Terra nos acompanhou nesse trecho e aproveitou para nos falar um pouco da geologia e da flora. Uma das plantas mais comuns que ele mencionou foram as Sempre Vivas, que ele aproveitou para esmagar e espalhar o pólen.


Sempre vivas Posted by Hello

Pelo que pude sentir depois, o Terra estava lá também para dar algumas dicas ao Michel sobre o caminho que enfrentaríamos. Percebi isso no momento em que tivemos que esperar uns 10 minutos até que ele encontrasse a trilha certa e nos nos enfiasse em uma mata fechada e espinhento.
Aqui vale lembrar uma dica preciosa que recebi ainda na agência: trekking deve ser feito de calças e nunca de shorts ou bermudas. Fazer isso é garantir milhares de arranhões nas pernas e uma "maravilhosa" noite de sofrimento e dor.
Uma vez corrigido o curso, seguimos caminhando e olhando a paisagem desde os pés dos morros.


A paisagem do caminho Posted by Hello

Enquanto passávamos pelo Morrão, o Michel nos comentou sobre um passeio que atravessa o lugar subindo até o cume e descendo pelo outro lado.
O tal Morrão me pareceu tão íngreme que dei graças a Deus por estar embaixo.


O Morrão Posted by Hello

Desde o início da trilha, foram duas horas de meia de caminhada no sol e na terra até que chegamos ao nosso ponto de parada, a cachoeira Águas Claras.
Segundo o Michel, aquele era o ponto de parada dos tropeiros que atravessavam a Chapada com o gado e precisavam de um pouco de refresco para seguir viagem.
Nós entendemos exatamente o que ele quis dizer já que rimos à toa quando pudemos tirar as botas, molhas os pés na água gelada e matar a fome com o lanche de trilha que a Venturas havia preparado.
Aliás, essa é uma ótima característica dos passeios na Chapada: a agência se preocupa com as refeições durante as caminhadas.
Nada mais justo pelo preço que pagamos.

Depois de uma hora de descanso e relaxamento, voltamos à rotina de caminhadas sob o sol e partimos rumo à cidade de Conceição dos Gatos.
Nenhum de nós tinha idéia de como era a cidade ou de quanto tempo demoraríamos para chegar, mas àquela altura, tudo não passava de detalhes no nosso dia de exercício. Tínhamos comida, água e vontade de andar. O resto era sol e pó, literalmente.

Conceição era uma vilinha de duas ruas perpendiculares. Logo na entrada (pelo menos para os caminhantes que vêm das Águas Claras) fica a capelinha.
Era lá que deveríamos encontrar um segundo carro da Venturas que nos levaria até a Pousada Verde no Vale do Capão.
Enquanto esperávamos, acordamos o dono de uma venda e compramos algumas bebidas geladas para matar ainda mais a sede que teimava em continuar.


Conceição dos Gatos Posted by Hello

O carro chegou atrasado e absurdamente empoeirado, mas como nós também não éramos exemplos de limpez, tudo ficou legal e nos acomodamos na Rural.
Antes da pousada, porém, tínhamos mais uma parada: uma cachoeira muito legal, cujo nome eu realmente não me lembro. Entre pedrinhas assassinas para os pés, trocas de roupa ao ar livre e uma tonelada de frutas consumidas assistindo ao pôr do sol, curtimos bastante a última atração do dia e não deixamos de mergulhar nas águas negras da piscina natural.


A cachoeira do esquecimento Posted by Hello


Mais da cachoeira do esquecimento Posted by Hello

Novamente secos e empacotados, chegamos à vila do Vale do Capão quando já era noite. Circulamos pelo centrinho, compramos pão doce e artesanato e nos abastecemos de água para o dia seguinte.
Áquela altura só queríamos banho e cama e conseguimos nosso objetivo poucos minutos depois. O Michel (que morava na vila) nos deixou no carro e acertou o horário para o dia seguinte. Além disso, ele nos indicou o lugar do jantar e nos orientou sobre o que já estava coberto ou não no pacote.

Após o banho, algum descanso e nenhum namoro depois, pegamos os franceses e fomos jantar. Apesar da aparência simplória do lugar, fomos supreendidos por um delicioso frango xadrez, cortesia de alguns paulistas que largaram a publicidade para ganhar a vida servindo comida para turistas na Chapada.
Foi uma ótima maneira de terminar um dia tão cansativo.
Nem a idéia de que o dia seguinte seria ainda pior conseguiu nos tirar o sono de anjos em que embarcamos.

domingo, agosto 29, 2004

Nos encontrando na Chapada

Com tanto capricho e cuidado, não havia como não nos sentirmos em casa lá na Canto das Águas. Tivemos mais um prova disso na hora do café da manhã, com direito a ovos orgânicos, dúzias de bolos e doces, pãezinhos recém saídos do forno, mini-tapiocas (que a minha mineira devorou com avidez) e geléias variadas.
Dava para ficar a manhã toda comendo, mas tínhamos que nos aprontar logo para fazer o passeio contratado no dia anterior.
Confesso que eu estava um pouco apreensivo, provavelmente pela falta de experiência.
Meu currículo de férias sempre foi meio pobre nestes assuntos de contratação. Sempre fui mais de ir para a praia e só fazer o esforço de levantar o dedo para que o moço da barraquinha me trouxesse mais uma gelada.
Como sempre tem que haver uma primeira vez para tudo, tentamos arrumar uma mochila com tudo o que julgávamos útil para um dia de caminhadas e mergulhos. Só faltou o para-quedas.

A idéia do passeio era visitar alguns lugares próximos a Lençóis e cujo acesso não fosse difícil. Na verdade, esse era apenas o primeiro dia de um total de sete vendidos no pacote da Venturas. Como não tínhamos grupo e havíamos chegado no dia anterior, tivemos que optar por essa saída enquanto pensávamos em alguma coisa para fazer no dia seguinte.
Na mesma situação que a gente estavam um casal francês e dois adolescentes de Israel.
Hospedados no mesmo hotel que a gente estava parte do grupo que ficaria uma semana embrenhado no Parque Nacional, mas até aquele momento pouco se sabia sobre as diferenças de programas.

O povo da agência passou para nos pegar no hotel em um micro ônibus e de lá fomos direto para o Poço do Diabo. O acesso ao poço ficava na beira da estrada para o interior da Bahia e era marcado por uma barraca que se ocupava de vender artesanato, bebidas e de oferecer uma abençoada sombra para os caminhantes extenuados.
Nos abastecemos de águe e descemos o morro rumo à atração principal.

Depois de uns 10 minutos de descida descobrimos que havia uma corda para tirolesa e outra para rapel, mas que ambas atrações deveriam ser pagas à parte. Como não estávamos a fim de brincar, descemos até o acesso ao poço e nos arriscamos nas águas escuras e geladas da Chapada.


O Poço do Diabo Posted by Hello

Ficamos nos refrescando mais de uma hora e a minha mineira até se arriscou a descer da tirolesa uma vez. Tanto ela falou que me convenceu a ir também. Não me arrependi de ter ido, assim como não me arrependi de não ter pago quatro vezes mais para ter as duas atrações à minha disposição quantas vezes eu quisesse. Descer uma vez foi o suficiente. Pena que a minha mineira se atrapalhou com a digital e só percebeu que não estava filmando quando eu bati na água. Coisas de dentistas.

A próxima parada seria a gruta da Pratinha, mas não antes de enfrentar a subida para acesso à estrada. Voltar foi bem mais complicado, mas acabamos conseguindo sem baixas no grupo. Mais água comprada, todo mundo embarcado e lá fomos nós de novo.
Antes da gruta, fomos apresentados a um cartão postal da região, o Morro do Camelo. O nome do tal morro vem da forma que (em certos ângulos e usando um pouco de imaginação) lembra um camelo deitado e olhando para trás. Como o espírito de turista estava imperando, aceitamos o camelo, tiramos algumas fotos e voltamos para a estrada.


O Morro do Camelo Posted by Hello

A principal atração da Gruta da Pratinha era uma exploração aquática da caverna, com direito a máscara, snorkel e colete salva-vidas. Demoramos um pouco para decidir pagar mais uma taxa, mas acabamos nos rendendo e nos juntando ao primeiro grupo de mega-exploradores.
A idéia do passeio era flutuar em direção ao fundo da caverna, usar uma lanterna para orientação e enfiar a cabeça na água para observar os peixes e o fundo.
A ida não teve maiores atrações além da água fria e da escuridão, mas a volta acabou sendo muito legal: com a incidência da luz e o magnésio da água, tudo assumiu tons azulados e até os peixes ganharam uma cor especial.
Por falar em peixes, apesar de ser marinheira de primeira viagem e de reclamar bastante do snorkel, a minha mineira foi a última a sair da água e me fez prometer que faríamos aquilo de novo. Coisas de quem não tem praia perto.

Como já era quase uma hora da tarde, a atração seguinte foi um almoço local no restaurante que ficava na mesma Pratinha. Lá nos experimentamos um cozido de palma (um cactus chato em forma de gota), feijão de corda e um preparado de banana.
Tudo me pareceu muito gostoso e diferente.

Do restaurante, fomos a pé até a Gruta Azul. Tínhamos que ter pressa pois os guias queriam nos mostrar um efeito que some depois das três da tarde.
O tal efeito fazia com que a água ficasse praticamente invisível e que os peixes "flutuassem no ar". Era impressionante o bonito, mas o efeito ficou prejudicado por um tonto que não viu a água e enfiou o pé na margem, levantando um monte de barro e estragando toda a brincadeira.


Os peixes voadores da Gruta Azul Posted by Hello

Mais uma vez embarcados no ônibus, rumamos para a Gruta da Lapa Doce, uma caverna no meio da caatinga, que começava em um precipício, passva por baixo da estrada e terminava algumas centenas de metros depois, eu uma escadaria natural que judiava dos joelhos. O passeio foi legal, apesar de eu achar que o Petar é bem mais rico e de achar engraçado o uso do termo "dedo" para algumas formações rochosas obviamente fálicas. Não perdi a piada mas não sei se as senhoras do grupo curtiram muito a idéia.

Como não seguiríamos como o pessoal do pacote, a Venturas providenciou um transporte de volta a Lençóis. Os franceses e os israelenses nos acompanharam em uma aventura sem limites nas mãos do tiozinho que achava que aquela Toyota Bandeirante era a Ferrari do Schumacher. Graças a Deus só passou um caminhão para a gente quase bater.

Já em Lençóis, começamos a negociação para os dias seguintes, mas só conseguimos uma definição depois que concordamos em pagar uma boa quantia para dividir um guia com os franceses em um trekking de dois dias pelo coração do Parque Nacional.
A idéia era partir a pé do Morro do Pai Inácio, passar pela Vila do Capão, visitar a Cachoeira da Fumaça e voltar para Lençóis de carro.
Isso nos parecia uma grande desafio, mas achamos que seria bom sair um pouco do conforto com que estávamos acostumados.
Meu grande temor eram as condições físicas da minha mineira, mas como ela se mostrou decidida, pagamos o passeio e fomos jantar.

Acabamos no mesmo Bella Itália e novamente voltamos para casa felizes.
Acertamos os detalhes das malas e do retorno ao hotel e fomos descansar.
Afinal de contas, sabíamos que os dois dias seguintes seriam bem pesados e precisaríamos de todas as nossas forças.

sábado, agosto 28, 2004

Afastados do litoral

Nossa última manhã em Morro começou e terminou mais ou menos como nossa estada: devagar e sem muita graça.
Acordamos cedo, tomamos café, chamamos o carregador, pagamos a pousada e fomos em direção ao porto.
No caminho, lá da Segunda Praia, uma última olhada para um farol que provavelmente não teríamos oportunidade de rever.


O farol de Morro Posted by Hello

Antes de sair da ilha, eu tinha que fotografar um símbolo que me deixou satisfeito e crente que aquele lugar tinha salvação: a bandeira do Chile na frente de um restaurante só poderia ser um bom sinal para o resto da nossa viagem.


Boas influências na ilha de Tinharé Posted by Hello

Atravessamos a rua principal, o centro e passamos uma última vez em frente à igrejinha. Encontramos um monte de gente chegando e subindo a ladeira. Deviam ser turistas que vinham de Salvador e que passariam apenas o dia em Morro.
Isso me pareceu uma boa opção, mas teria sido melhor receber essa informação antes de chegar de mala e cuia na ilha. Quem sabe da próxima?


O adeus ao Portal Posted by Hello

Nossa passagem pelo portal e a partida do barco foram meio melancólicas.
Por mais que não houvesse muito espaço para reclamações (afinal de contas tudo funcionou perfeitamente durante os dias que passamos na ilha), ficou um gostinho meio esquisito de ter finalmente conhecido e não curtido um lugar muitas vezes sonhado, ao menos por mim.
Como a idéia era continuar curtindo a Bahia, demos um "bye" meio blasé para a ilha e nos concentramos em como chegaríamos a Lençóis, nossa próxima parada.


Até nunca mais, Morro de São Paulo Posted by Hello

A grande preocupação à partir da chegada a Valença seria o afastamento da BR101 e do litoral bahiano. Já havíamos passado mais bocados logo depois de deixar as estradas capixabas e a expectativa não era das melhores para o resto da viagem. Na verdade, a gente estava esperando um cecnário de guerra, mas não havia nada a fazer além de "sentar a bota" e gritar quando surgisse o problema. Afinal de contas, férias sem mico, só na Ilha de Caras.

Acho que estávamos de bom humor naquela manhã.
Isso explica nossa tranquilidade quando vimos o barco diminuir a velocidade e encostar em um lugar que não era nem de longe igual ao movimentado porto de Valença.
A explicação: com a maré baixa, o barco não conseguia fazer o caminho de volta e o acesso à cidade teria que ser feito por terra, de táxi. Tudo tranquilo para os viajantes cada vez mais descolados.
Alguns minutos e dois reais depois de atracarmos, já estávamos rumo ao movimentado e meio esquisito centro de Valença.
Depois do táxi só tivemos que achar o estacionamento, transferir as malas de lugar e seguir as placas para voltar à estrada.

A idéia inicial era sair de Valença e ir mais ou menos direto para a BR101, saindo perto da cidade de Presidente Tancredo Neves, mas uma curva errada em algum lugar nos levou para o norte, na direção de Aratuípe e Nazaré.
Felizmente nós conseguimos nos localizar com facilidade e chegamos à BR na altura de Santo Antonio de Jesus. Foi exatamente nesse ponto que tomamos mais uma trágica decisão nas nossas aventuras na Bahia: para economizar uma ida até Feira de Santana pela 101, resolvemos "cortar caminho" por estradas menores, indo em direção a Varzedo, Amargosa e Itaberaba, atravessando a BR116.

As estradas que encontramos entre Santo Antonio de Jesus e a 116 tinham sua qualidade variando do péssimo ao torturante, mas não havia como voltar atrás.
Felizmente nossa tolerância acabou no momento em que chegamos à velha conhecida BR116. À partir daí decidimos que valia a pena andar um pouco mais, mas andar. Dos arredores da cidade de Milagres seguimos para o norte até Argoim.


Típica estrada do interior da Bahia Posted by Hello

No caminho vimos um monte de cactos que pareciam plantados de forma propositalmente caótica. Na impossibilidade de definir se era uma fazenda ou se era apenas a "caatinga lascada", metemos o pé e fomos desviando dos buracos bissextos da BR.


O velho oeste americano? Posted by Hello

De Argoim até Itaberaba, a estrada estava uma maravilha: vazia e bem conservada.
Não demoramos muito até pararmos para reabastecimento e troca de pneus e voltarmos a viver a expectativa da Chapada.
Pena que a equipe de conservação da estrada não estava com a mesma pressa e não se importou de nos atrasar ainda mais com grandes buracos e pouco asfalto.
Foi exatamente esse cenário que nos mostrou mais uma característica nova: um monte de crianças jogando terra nos buracos e pedindo dinheiro (com o tradicional gesto de esfregar as pontas dos dedos de uma mão umas nas outras) em troca do "serviço de conservação rodoviária".
Achei aquilo meio bizarri demais e nem ensaiei parar para dar algo.

Quase chegando a Lençóis veio o último desafio: dezenas de crateras que nem os ônibus ousavam enfrentar. O assoalho do meu carro rangeu milhares de vezes a cada vez que eu roçava as pedras e a terra, mas graças ao Grande, conseguimos chegar na cidade sem nenhum pedaço a menos.

Foi fácil localizar a pousada Canto das Águas. Ela ficava logo depois da entrada da cidade, pouco antes da igrejinha.
Nem acreditamos na nossa sorte quando vimos onde passaríamos as noites seguintes.
O lugar era tão legal que servia perfeitamente como compensação para o stress que novamente as estradas bahianas haviam nos trazido.


Pousada Canto da Águas Posted by Hello


Mais um pouquinho da Canto das Águas Posted by Hello

Um passeio exploratório pela piscina e um bom banho foram suficientes para renovar as energias e nos colocar de novo em movimento. Desta vez a missão era descobrir um passeio para fazer nos dias seguintes. Tínhamos uma série de indicações mas não sabíamos que a baixa temporada tornaria tudo mais complicado: não havia gente para dividir os passeios e isso deixava os preços nas alturas.
Já estávamos desanimando depois de percorrer meia dúzia de agências quando a menina da Venturas & Aventuras nos animou ao dizer que estávamos incluídos em uma turma grande que faria um passeio a alguns lugares mais acessíveis à maioria dos turistas.
Nós aproveitaríamos o primeiro dia de um passeio de uma semana vendido pela agência e teríamos nosso primeiro contato com a Chapada. Isso nos daria uma idéia inicial do que enfrentar e também um pouco mais de tempo para decidir os próximos passos.

Definido o dia seguinte, passamos ao outro assunto da vez: comer.
Procurando um lugar acabamos tropeçando em outro e não nos arrependemos: a cantina Bella Itália se revelou muito simples mas muito gostosa. Infelizmente a cerveja estava quente, mas nada que estragasse nossa primeira noite no lugar mais desejado da viagem.
Cansadaços, mas satisfeitos, voltamos para a deliciosa pousada e dormimos como anjos, preparando o ânimo para o primeiro contato com algo que eu já havia feito inúmeras vezes acompanhado de Morfeu.

sexta-feira, agosto 27, 2004

Caindo na real

Acho que uma palavra resume bem o que senti depois que cheguei a Morro de São Paulo: decepção.
Eu já tinha ouvido falar tanto desse lugar histórico e badalado que certamente tinha construído algum tipo de modelo na minha cabeça e esperava que a realidade tivesse muito a ver com a minha imaginação.´
Acaba sendo engraçado me lembrar que eu nunca havia visto fotos do lugar e nunca havia prestado muita atenção às descrições que me faziam. Por alguma razão esquisita e metafísica, eu associava Morro a um lugar de praias paradisíacas, areia branca e sossego. Algo como o Mangue Seco da Tieta.
É bem feito por não buscar a informação antes de sair de casa.

Só para provar que a gente é ainda mais insignificante quando não se prepara, a primeira imagem que tive de Morro durante a manhã foi a da Segunda Praia, bem em frente à pousada. Como a área de café da manhã era praticamente na rua, deu para ver direitinho todos os recifes expostos pela maré baixa. Foi meio esquisito encarar um lugar onde não daria para mergulhar.
Acho que dá para dizer que o lugar era feio mesmo.


A Terceira Praia Posted by Hello

Como havíamos decidido não fazer nenhum dos passeios que nos ofereceram na noite anterior, nossa idéia era caminhar até a Quarta Praia e visitar as tais "piscinas naturais".
Mais uma decepção a caminho: as tais piscinas eram rasas, tinham água escura e não dava para identificar muitos peixes esperando a subida da maré.
Pior ainda foi o vendedor ambulante de passeios tentando nos convencer que àquela hora a maré já estaria alta e só daria para ver o mar.
Foi o exemplo perfeito de planejamento a curto prazo: à partir daquele momento, o tal vendedor havia perdido toda e qualquer chance de ganhar alguma coisa com a gente.
Pelo menos nesta "encadernação".

Como não curtimos as piscinas e não havia praia para um banho, decidimos estacionar em uma barraca e tomar alguma coisa. Até que nesse ponto a situação melhorou bastante já que a tal barraca era bem equipada e o atendimento bastante cordial.
O único problema era a cerveja quente, mas àquela altura, depois de um par de dias na Bahia, já estávamos nos acostumando com a idéia de não encontrar cervejas geladas até que saíssemos do estado de ACM.


Barraquinha na Quarta Praia Posted by Hello

Da Quarta nós voltamos para a Segunda Praia e nos deparamos com um ambiente bem mais animado: um monte de gente comendo e bebendo os produtos das inúmeras barraquinhas e restaurantes e arriscando uns mergulhos em uma praia sem recifes aparentes.
Como queríamos experimentar a água de Morro, perguntamos se ali havia o risco de ficar sem a unha ao topar com um recife. O gentil garçom nos disse que não e que só existiam pedras la no fim da baía, a uns 50 metros da praia. Só no dia seguinte é que fomos ver qual era a realidade da Segunda Praia.

Um banho aqui, uma caipirinha lá e o tempo foi passando na Segunda Praia.
De vez em quando ficávamos assistindo ao divertido relacionamento entre jovens europeus e as "namoradas" que eles arrumavam logo que chegavam ao Brasil.
Invariavelmente, o casal era formado por um cara jovem e branco e por uma menina igualmente jovem e negra. Parece até estereótipo, mas era o mais comum de se encontrar. Estava na cara que ali rolava uma relação comercial, mas se todo mundo sabia disso e estava feliz, "ema-ema-ema-cada um com seus problemas".

Voltamos para a pousada para tomar um banho, trocar de roupa e almoçar no Centro.
Desta vez a escolha recaiu sobre o restaurante Tinharé, um lugarzinho meio escondido na rua que leva para o Centrinho. Apesar de ser diferente do que estávamos acostumados a comer, a moqueca do lugar era simples e deliciosa. Nem me lembro direito que tipo de peixe era, mas estava muito bom.

Assassinada a fome, fomos dar um volta e conhecer a parte histórica da cidade.
Conhecemos uma fonte de água 1700 e trololó e cuja história eu realmente não me lembro. Devia ter algo a ver com um francês e a corte portuguesa.


Fonte de água Posted by Hello

Depois fomos visitar a igrejinha, onde a minha mineira fez a tradicional oração e os pedidos. Até imagino o que ela tenha pedido, mas isso também não era novidade.


A matriz de Morro Posted by Hello

Seguindo a sugestão do Professor e do guia que havíamos consultado na noite anterior, fomos visitar o forte, apreciar o pôr-do-sol e tentar ver alguns golfinhos, que tradicionalmente apareciam para dar um alô.
Vimos o forte, vimos o sol indo embora, mas não vimos os golfinhos. Ficou para a próxima.


O forte dos golfinhos Posted by Hello


O pôr do sol no forte Posted by Hello

A última visita histórica seria ao Farol, mas como o dia já estava terminando, faltou luz para encontrar o caminho e acabamos desistindo. Não sem antes tropeçar um monte descendo o morro, mas poderia ter sido bem mais trágico.
De volta ao quarto, decidimos que aquela seria a nossa última noite em Morro e que encerraríamos as atividades no tradicional luau da Segunda Praia.

Um par de horas de sono depois, lá estávamos nós no luau. E novamente esperávamos mais. Havia uma banda tocando música brasileira e reggae, um bando de gringos com suas danças "típicas" e um povo quase tão perdido quanto a gente. Pouca gente, pouca animação e um ventinho cortante.
Depois de meia hora decidimos que ganhávamos mais na cama do quarto e voltamos.
No dia seguinte teríamos que enfrentar o interior da Bahia e a idéia era sair da ilha cedo, logo na lancha da 9 da manhã.