sábado, janeiro 08, 2005

Começando na Inconfidência

O fato de termos escolhido um estado vizinho desta vez facilitou bem as coisas.
Sabíamos que teríamos menos estrada pela frente e menos emoções também.
Seria uma aventura bem diferente da selva de buracos das estradas bahianas. A gentileza do povo seria parecida e a comida, menos agressiva para estômagos sensíveis.
Apesar das diferenças, ambos saímos de Sampa animados e com vontade de conhecer de tudo, principalmente aquilo que as grandes excursões deixam de lado por não ser tão vendável.

A Fernão Dias estava bem tranquila na manhã daquele sábado.
A minha mineira havia chegado na noite anterior e isso nos garantiu um pouco mais de descanso antes da estrada. Conversamos bastante, ouvimos muita música (desta vez o Ipod funcionou sem problemas) e só paramos quando a tarde já ia pela metade e a fome apertava demais.
Paramos em um restaurante anunciado durante uns 30km. Eram tantas placas falando no tal Rei da Traíra que não conseguimos resistir a uma parada para conferir do que se tratava.


O Rei da Traíra Posted by Hello

Acabamos experimentando um peixe razoavelmente gostoso, apesar da simplicidade do preparo e dos poucos condimentos para os acompanhamentos.
A surpresa desagradável foi na hora de pagar: esquecemos de ler a placa que dizia que o preço único era R$ 22,00 por pessoa e pagamos uma conta bem maior do que o esperado. Acho que estávamos acostumados com os restaurantes bahianos e sua comida barata. Ficou como lição: verificar os preços antes de comer.

A chegada a Tiradentes foi tranquila e nos deu tempo de ligar para vários lugares antes de escolher a pousada "Recanto das pedras", logo na entrada da cidade, antes da estrada de ferro.


Pousada Recanto das Pedras Posted by Hello

O lugar era arrumadinho, simples e quieto, bem do jeito que a gente queria.
Infelizmente o quarto não tinha ar condicionado, o que nos obrigou a abrir portas e janelas com urgência para não cozinhar todas as partes moles do corpo.

Depois de um banho e de uma deitada de 10 minutos, fomos conhecer a cidade.
Deixamos o carro ao lado do Largo das Forras, a praça principal da cidade.
Ali mesmo fomos ao escritório de turismo e conseguimos um mapa da cidade. Além do mapa, conseguimos algumas informações importantes e a dica de começar vendo a cidade do alto à partir do morro onde fica a Igreja de São Francisco de Paula.


Mapa de Tiradentes Posted by Hello


Tiradentes vista do alto Posted by Hello


Igreja de São Francisco de Paula Posted by Hello

Como não poderia deixar de ser, nossa sorte peculiar atacou de novo e começou a chover torrencialmente. O carro estava a algumas quadras dali e não havia outra solução a não ser buscar abrigo na rodoviária.
Até aí tudo bem para quem pensa em lugares como os terminais de Sampa ou de Uberlândia, mas em uma cidade com apenas 5000 habitantes, a rodoviária se resume a uma casinha para vender passagens e duas baias para estacionamento dos poucos ônibus que passam por ali.
Resultado: ficamos razoavelmente molhados com a chuva que o vento trazia e tivemos que ficar mais de 40 minutos esperando o temporal passar.

Quando as coisas acalmaram pensei em correr para pegar o carro.
Infelizmente a minha parca inteligência não me ajudou no momento de fazer a mala e me lembrei que só tinha uma calça jeans e um tênis. Se eu os encharcasse, adeus conforto. Felizmente a minha mineira contava com a habitual mala de mudança e não demorou muito para sair correndo e pulando poças.
Dali a poucos minutos, lá estava ela para me buscar e me levar são, seco e salvo para a pousada.
Apesar de humilhante, foi engraçado.

Depois de relaxar e trocar as roupas molhadas, reservamos a mesa e o prato no recomendado restaurante Viradas do Largo. Tínhamos a informação de que a galinha caipira deles era muito boa e resolvemos experimentá-la com ora-pro-nobis, uma erva local que nunca havíamos experimentado. Estávamos totalmente nas mãos das recomendações do guia, mas não havia nem um pouco de preocupação em nossas cabeças e estômagos.

Ainda bem que não estávamos preocupados pois o prato que escolhemos merecia a fama que tinha. Apesar de eu ter descoberto tarde demais que a minha mineira não era muito fã de galinha, acabamos comendo um monte e até arriscando um pouco da fortíssima pimenta local. Saímos achando tudo lindo, menos a conta que tinha preços dignos de Sampa.

Como ainda tínhamos fôlego para passear, fomos reconhecer o terreno perto da matriz da cidade. A nossa sorte da noite continuou firme pois demos de cara com um casamento e uma entrada livre e sem vigilância em uma das igrejas mais ricas em ouro do país. Tudo era lindo e a gente não sabia se olhava para a cerimônia ou para as decorações.
Em um feliz acidente, acabei tirando uma foto com flash do altar mor e toda a enormidade de adereços de ouro.
Foi uma ótima introdução para o desbunde que viria depois.


Interior da Igreja Matriz Posted by Hello

Depois do casório tive que arrastar a minha mineira para fora da igreja já que ela queria ver tudo enquanto algumas pessoas estavam loucas para fechar tudo e ir para casa.
Mesmo com um leve bico, ela concordou e voltamos para o hotel para nanar e recuperar a carcaça. No dia seguinte teríamos novas oportunidades de ver aqueles prédios e ruas mais velhos do que podíamos imaginar.