sexta-feira, agosto 27, 2004

Caindo na real

Acho que uma palavra resume bem o que senti depois que cheguei a Morro de São Paulo: decepção.
Eu já tinha ouvido falar tanto desse lugar histórico e badalado que certamente tinha construído algum tipo de modelo na minha cabeça e esperava que a realidade tivesse muito a ver com a minha imaginação.´
Acaba sendo engraçado me lembrar que eu nunca havia visto fotos do lugar e nunca havia prestado muita atenção às descrições que me faziam. Por alguma razão esquisita e metafísica, eu associava Morro a um lugar de praias paradisíacas, areia branca e sossego. Algo como o Mangue Seco da Tieta.
É bem feito por não buscar a informação antes de sair de casa.

Só para provar que a gente é ainda mais insignificante quando não se prepara, a primeira imagem que tive de Morro durante a manhã foi a da Segunda Praia, bem em frente à pousada. Como a área de café da manhã era praticamente na rua, deu para ver direitinho todos os recifes expostos pela maré baixa. Foi meio esquisito encarar um lugar onde não daria para mergulhar.
Acho que dá para dizer que o lugar era feio mesmo.


A Terceira Praia Posted by Hello

Como havíamos decidido não fazer nenhum dos passeios que nos ofereceram na noite anterior, nossa idéia era caminhar até a Quarta Praia e visitar as tais "piscinas naturais".
Mais uma decepção a caminho: as tais piscinas eram rasas, tinham água escura e não dava para identificar muitos peixes esperando a subida da maré.
Pior ainda foi o vendedor ambulante de passeios tentando nos convencer que àquela hora a maré já estaria alta e só daria para ver o mar.
Foi o exemplo perfeito de planejamento a curto prazo: à partir daquele momento, o tal vendedor havia perdido toda e qualquer chance de ganhar alguma coisa com a gente.
Pelo menos nesta "encadernação".

Como não curtimos as piscinas e não havia praia para um banho, decidimos estacionar em uma barraca e tomar alguma coisa. Até que nesse ponto a situação melhorou bastante já que a tal barraca era bem equipada e o atendimento bastante cordial.
O único problema era a cerveja quente, mas àquela altura, depois de um par de dias na Bahia, já estávamos nos acostumando com a idéia de não encontrar cervejas geladas até que saíssemos do estado de ACM.


Barraquinha na Quarta Praia Posted by Hello

Da Quarta nós voltamos para a Segunda Praia e nos deparamos com um ambiente bem mais animado: um monte de gente comendo e bebendo os produtos das inúmeras barraquinhas e restaurantes e arriscando uns mergulhos em uma praia sem recifes aparentes.
Como queríamos experimentar a água de Morro, perguntamos se ali havia o risco de ficar sem a unha ao topar com um recife. O gentil garçom nos disse que não e que só existiam pedras la no fim da baía, a uns 50 metros da praia. Só no dia seguinte é que fomos ver qual era a realidade da Segunda Praia.

Um banho aqui, uma caipirinha lá e o tempo foi passando na Segunda Praia.
De vez em quando ficávamos assistindo ao divertido relacionamento entre jovens europeus e as "namoradas" que eles arrumavam logo que chegavam ao Brasil.
Invariavelmente, o casal era formado por um cara jovem e branco e por uma menina igualmente jovem e negra. Parece até estereótipo, mas era o mais comum de se encontrar. Estava na cara que ali rolava uma relação comercial, mas se todo mundo sabia disso e estava feliz, "ema-ema-ema-cada um com seus problemas".

Voltamos para a pousada para tomar um banho, trocar de roupa e almoçar no Centro.
Desta vez a escolha recaiu sobre o restaurante Tinharé, um lugarzinho meio escondido na rua que leva para o Centrinho. Apesar de ser diferente do que estávamos acostumados a comer, a moqueca do lugar era simples e deliciosa. Nem me lembro direito que tipo de peixe era, mas estava muito bom.

Assassinada a fome, fomos dar um volta e conhecer a parte histórica da cidade.
Conhecemos uma fonte de água 1700 e trololó e cuja história eu realmente não me lembro. Devia ter algo a ver com um francês e a corte portuguesa.


Fonte de água Posted by Hello

Depois fomos visitar a igrejinha, onde a minha mineira fez a tradicional oração e os pedidos. Até imagino o que ela tenha pedido, mas isso também não era novidade.


A matriz de Morro Posted by Hello

Seguindo a sugestão do Professor e do guia que havíamos consultado na noite anterior, fomos visitar o forte, apreciar o pôr-do-sol e tentar ver alguns golfinhos, que tradicionalmente apareciam para dar um alô.
Vimos o forte, vimos o sol indo embora, mas não vimos os golfinhos. Ficou para a próxima.


O forte dos golfinhos Posted by Hello


O pôr do sol no forte Posted by Hello

A última visita histórica seria ao Farol, mas como o dia já estava terminando, faltou luz para encontrar o caminho e acabamos desistindo. Não sem antes tropeçar um monte descendo o morro, mas poderia ter sido bem mais trágico.
De volta ao quarto, decidimos que aquela seria a nossa última noite em Morro e que encerraríamos as atividades no tradicional luau da Segunda Praia.

Um par de horas de sono depois, lá estávamos nós no luau. E novamente esperávamos mais. Havia uma banda tocando música brasileira e reggae, um bando de gringos com suas danças "típicas" e um povo quase tão perdido quanto a gente. Pouca gente, pouca animação e um ventinho cortante.
Depois de meia hora decidimos que ganhávamos mais na cama do quarto e voltamos.
No dia seguinte teríamos que enfrentar o interior da Bahia e a idéia era sair da ilha cedo, logo na lancha da 9 da manhã.