domingo, agosto 29, 2004

Nos encontrando na Chapada

Com tanto capricho e cuidado, não havia como não nos sentirmos em casa lá na Canto das Águas. Tivemos mais um prova disso na hora do café da manhã, com direito a ovos orgânicos, dúzias de bolos e doces, pãezinhos recém saídos do forno, mini-tapiocas (que a minha mineira devorou com avidez) e geléias variadas.
Dava para ficar a manhã toda comendo, mas tínhamos que nos aprontar logo para fazer o passeio contratado no dia anterior.
Confesso que eu estava um pouco apreensivo, provavelmente pela falta de experiência.
Meu currículo de férias sempre foi meio pobre nestes assuntos de contratação. Sempre fui mais de ir para a praia e só fazer o esforço de levantar o dedo para que o moço da barraquinha me trouxesse mais uma gelada.
Como sempre tem que haver uma primeira vez para tudo, tentamos arrumar uma mochila com tudo o que julgávamos útil para um dia de caminhadas e mergulhos. Só faltou o para-quedas.

A idéia do passeio era visitar alguns lugares próximos a Lençóis e cujo acesso não fosse difícil. Na verdade, esse era apenas o primeiro dia de um total de sete vendidos no pacote da Venturas. Como não tínhamos grupo e havíamos chegado no dia anterior, tivemos que optar por essa saída enquanto pensávamos em alguma coisa para fazer no dia seguinte.
Na mesma situação que a gente estavam um casal francês e dois adolescentes de Israel.
Hospedados no mesmo hotel que a gente estava parte do grupo que ficaria uma semana embrenhado no Parque Nacional, mas até aquele momento pouco se sabia sobre as diferenças de programas.

O povo da agência passou para nos pegar no hotel em um micro ônibus e de lá fomos direto para o Poço do Diabo. O acesso ao poço ficava na beira da estrada para o interior da Bahia e era marcado por uma barraca que se ocupava de vender artesanato, bebidas e de oferecer uma abençoada sombra para os caminhantes extenuados.
Nos abastecemos de águe e descemos o morro rumo à atração principal.

Depois de uns 10 minutos de descida descobrimos que havia uma corda para tirolesa e outra para rapel, mas que ambas atrações deveriam ser pagas à parte. Como não estávamos a fim de brincar, descemos até o acesso ao poço e nos arriscamos nas águas escuras e geladas da Chapada.


O Poço do Diabo Posted by Hello

Ficamos nos refrescando mais de uma hora e a minha mineira até se arriscou a descer da tirolesa uma vez. Tanto ela falou que me convenceu a ir também. Não me arrependi de ter ido, assim como não me arrependi de não ter pago quatro vezes mais para ter as duas atrações à minha disposição quantas vezes eu quisesse. Descer uma vez foi o suficiente. Pena que a minha mineira se atrapalhou com a digital e só percebeu que não estava filmando quando eu bati na água. Coisas de dentistas.

A próxima parada seria a gruta da Pratinha, mas não antes de enfrentar a subida para acesso à estrada. Voltar foi bem mais complicado, mas acabamos conseguindo sem baixas no grupo. Mais água comprada, todo mundo embarcado e lá fomos nós de novo.
Antes da gruta, fomos apresentados a um cartão postal da região, o Morro do Camelo. O nome do tal morro vem da forma que (em certos ângulos e usando um pouco de imaginação) lembra um camelo deitado e olhando para trás. Como o espírito de turista estava imperando, aceitamos o camelo, tiramos algumas fotos e voltamos para a estrada.


O Morro do Camelo Posted by Hello

A principal atração da Gruta da Pratinha era uma exploração aquática da caverna, com direito a máscara, snorkel e colete salva-vidas. Demoramos um pouco para decidir pagar mais uma taxa, mas acabamos nos rendendo e nos juntando ao primeiro grupo de mega-exploradores.
A idéia do passeio era flutuar em direção ao fundo da caverna, usar uma lanterna para orientação e enfiar a cabeça na água para observar os peixes e o fundo.
A ida não teve maiores atrações além da água fria e da escuridão, mas a volta acabou sendo muito legal: com a incidência da luz e o magnésio da água, tudo assumiu tons azulados e até os peixes ganharam uma cor especial.
Por falar em peixes, apesar de ser marinheira de primeira viagem e de reclamar bastante do snorkel, a minha mineira foi a última a sair da água e me fez prometer que faríamos aquilo de novo. Coisas de quem não tem praia perto.

Como já era quase uma hora da tarde, a atração seguinte foi um almoço local no restaurante que ficava na mesma Pratinha. Lá nos experimentamos um cozido de palma (um cactus chato em forma de gota), feijão de corda e um preparado de banana.
Tudo me pareceu muito gostoso e diferente.

Do restaurante, fomos a pé até a Gruta Azul. Tínhamos que ter pressa pois os guias queriam nos mostrar um efeito que some depois das três da tarde.
O tal efeito fazia com que a água ficasse praticamente invisível e que os peixes "flutuassem no ar". Era impressionante o bonito, mas o efeito ficou prejudicado por um tonto que não viu a água e enfiou o pé na margem, levantando um monte de barro e estragando toda a brincadeira.


Os peixes voadores da Gruta Azul Posted by Hello

Mais uma vez embarcados no ônibus, rumamos para a Gruta da Lapa Doce, uma caverna no meio da caatinga, que começava em um precipício, passva por baixo da estrada e terminava algumas centenas de metros depois, eu uma escadaria natural que judiava dos joelhos. O passeio foi legal, apesar de eu achar que o Petar é bem mais rico e de achar engraçado o uso do termo "dedo" para algumas formações rochosas obviamente fálicas. Não perdi a piada mas não sei se as senhoras do grupo curtiram muito a idéia.

Como não seguiríamos como o pessoal do pacote, a Venturas providenciou um transporte de volta a Lençóis. Os franceses e os israelenses nos acompanharam em uma aventura sem limites nas mãos do tiozinho que achava que aquela Toyota Bandeirante era a Ferrari do Schumacher. Graças a Deus só passou um caminhão para a gente quase bater.

Já em Lençóis, começamos a negociação para os dias seguintes, mas só conseguimos uma definição depois que concordamos em pagar uma boa quantia para dividir um guia com os franceses em um trekking de dois dias pelo coração do Parque Nacional.
A idéia era partir a pé do Morro do Pai Inácio, passar pela Vila do Capão, visitar a Cachoeira da Fumaça e voltar para Lençóis de carro.
Isso nos parecia uma grande desafio, mas achamos que seria bom sair um pouco do conforto com que estávamos acostumados.
Meu grande temor eram as condições físicas da minha mineira, mas como ela se mostrou decidida, pagamos o passeio e fomos jantar.

Acabamos no mesmo Bella Itália e novamente voltamos para casa felizes.
Acertamos os detalhes das malas e do retorno ao hotel e fomos descansar.
Afinal de contas, sabíamos que os dois dias seguintes seriam bem pesados e precisaríamos de todas as nossas forças.