quinta-feira, agosto 26, 2004

Aprender a surfar

Se tem uma coisa que eu preciso fazer antes de voltar a Itacaré é aprender a surfar, afinal de contas, a pequena vilinha sempre viveu em função do esporte das ondas. Só recentemente o turismo chegou com força para tentar fazer frente aos caras de cabelo parafinado, mas ainda vai demorar muito tempo para que o povo da prancha desista do seu paraíso na terra.
Por mais improvável que seja, tenho o compromisso de conseguir ficar em pé na prancha antes de pisar novamente naquelas terras.

Uma das nossas mais agradáveis surpresas da viagem veio com a luz do sol: a pousada Papaterra era muito legal, bonita e bem decorada. A piscina era convidativa e o jardim muito bem cuidado. Dava vontade de pegar uma cadeira e passar o dia inteiro ali, mas infelizmente tínhamos outros compromissos ainda naquele dia. Quem sabe na volta?


Pousada Papaterra Posted by Hello


As bananeiras do jardim Posted by Hello

O café foi bastante exclusivo: só nós dois e mais dois solitários em um salão bem grande, com direito a piano e balcão de bar.
Não havia nada de espetacular, mas o benefício de viajar na baixa temporada foi sentido logo de cara: o tratamento foi VIP e não conseguimos pedir nada antes do garçom já estar nos servindo ovos mexidos e outras delícias.
Os bolos estavam especialmente gostosos e saímos de lá bastante satisfeitos.

Nossa idéia era fotografar os restaurantes da noite anterior e visitar alguma das praias próximas. Não tínhamos idéia da direção a seguir e por isso tivemos que comprar um mapinha e pedir ajuda aos universitários.
Acabamos decidindo pela praia de Itacarezinho por várias razões: era a única que permitia a chegada de carro, era bastantes próxima da cidade e ficava na estrada para Ilhéus, que teríamos que pegar para retomar o caminho para o norte.
Nosso destino naquela dia era Morro de São Paulo e achavamos que saindo cedo da pousada evitaríamos o desgaste de correr contra o relógio.
Mas sabíamos como estávamos enganados.


Restaurante Mar e Mel Posted by Hello


Restaurante Dedo de Moça Posted by Hello

Antes de pegar a estrada para Itacarezinho, demos uma volta na praia da Concha e apreciamos o farol antigo lá no canto direito.
Minha querida irmãzinha de Blumenau havia me recomendando um passeio pelo braço de terra que leva até o farol, mas infelizmente não tínhamos tempo para correr o risco de ficarmos ilhados com a mudança da maré: o tal braço de terra é bem estreito e qualquer subida das águas obriga um mergulho de pés descalços para permitir a escapada dos incautos.
Não tínhamos nem tempo nem espírito de aventura, por isso decidimos ir logo para Itacarezinho.


O farol da Praia da Concha Posted by Hello

No caminho para a praia, notamos uma placa que apontava a BR101 a pouco mais de 40km.
Era uma realidade bem diferente dos 100km que tínhamos calculado dando a volta por Ilhéus. Após uma rápida conferência conjugal, decidimos que na volta arriscaríamos esse caminho e tentaríamos ganhar tempo ao rodar menos da metade do planejado.
Mal sabíamos que isso nos geraria um doloroso arrependimento, mas àquela altura ainda estávamos mergulhados na idéia e na visão da bela praia de Itacarezinho.

A praia não era do estilo que a Sô, minha ex-colega de Vanzolini curte: não era deserta, não era selvagem e nem tinha montanhas aqui e ali. No lugar da natureza intocada havia uma sucessão interminável de coqueiros, uma mega barraca-restaurante com mesas, sombra, comida e bebida e um monte de turistas (a maioria gringos) aprendendo surfe e danças afro.
Era até engraçado ver as branquelas tentando acompanhar a professora com o jeito desengonçado que lhes é peculiar, mas tenho certeza que todo mundo estava ser divertindo muito.


Praia de Itacarezinho Posted by Hello

A cada grupo novo de turistas que chegava, a sequência de risos, fotos e filmagens se repetia. Todos ficavam espantados de início e entravam na dança pouco depois.
Até nós guardamos algumas imagens e arriscamos alguns passos, mas como já era hora de partir, achamos melhor não revelar ao mundo nossos dons artísticos.
Uma porção de peixes, uns sucos e um xixi depois, lá estávamos nós de volta à estrada.

Seguimos de volta para Itacaré para pegar o "atalho" que recém descoberto.
Poucos minutos depois descobrimos que a tal estrada era de terra e paramos alguns segundos para pensar. Na plena ingenuidade, achamos que a estrada não estava tão ruim e que valia a pena economizar distâncias.
Até que as fazendas de coqueiros do começo da estrada valeram o esforço. A gente nunca havia visto algo parecido e acabamos parando várias vezes para fotografar e apreciar a paisagem.


Fazenda de coqueiros Posted by Hello

Quando decidimos pegar a estrada para valer, o sofrimento começou de vez: foram 90 minutos de sacolejos, buracos e stress. Ao invés de ganharmos 50km, acabamos perdendo 30 min e nossa folga foi para o espaço.
Quando finalmente chegamos à BR101 na altura da cidade de Aurelino Leal, eu já estava mordendo o volante e a minha mineira não falava nada com medo de ser mordida.

A estrada estava ruim, não tínhamos certeza do caminho a seguir e o tempo estava se esgotando para pegar o barco rápido em Valença. Tudo estava conspirando contra a gente e certamente a minha mineira não mereceu o tratamento que lhe dei.
Ela não tinha culpa de termos feito uma escolha errada.

Na altura da cidade de Travessão, decidimos seguir a dica de um morador do local e pegamos a BA001 que passava por Camamu (porto de acesso à Península de Maraú e à nossa desejada Taipus de Fora) e Valença.
Correndo como doidos, eu acabei causando um enjôo monstro na minha mineira ao pedir que ela arrumasse as coisas no carro para ganhar tempo assim que chegássemos a Valença. Apesar do benefício posterior, a possibilidade de ter meu carro "lavado" por dentro e a minha mineira semi-inutilizada não me agradou nem um pouco.

Chegamos a Valença 10 minutos antes da partida da lancha e para não perder mais tempo, paramos em um posto e pedimos informações. Ó que se seguiu foi digno de comédia pastelão: um "guia" mirim com camisa do Palmeiras saiu correndo de bicicleta para nos levar até o porto. Tenho certeza que eu mereci um par de multas com as minhas manobras, mas àquela altura tudo valia.
O porto surgiu faltando 2 minutos para as quatro da tarde e ainda tínhamos que tirar as malas e guardar o carro. Foi hilário ver os "aspones" do porto invadindo meu carro e levando cada um uma mala. A minha mineira estava explodindo de vontade de fazer xixi, mas mesmo assim aguentou firme para organizar a entrada da bagagem no barco.

Tive que correr para não ser deixado para trás depois de guardar o carro.
Paguei três diárias adiantadas e saí como um doido para rever a minha companheira de micos. Quando entrei no barco as amarras já haviam sido soltas e ela estava com cara de assustada. Nem consegui contar que tive que distribuir várias notas de R$ 1,00 para "agradecer" a ajuda do "guia" e dos "aspones": a gente se sentou em lados opostos da lancha.
Uns 30 minutos depois chegamos a Morro e contratamos um carregador que suou para vencer as ladeiras e nos levar até a Pousada das Amendoeiras na Terceira Praia.

Acho que os R$ 5,00 que pagamos por cada mala foram nosso melhor gasto do dia. Se andar naquelas areias sem bagagem já era complicado, imagine empurrando um carrinho de mão lotado de malas!!
Um bom banho e um descanso depois, acabamos perdendo o sol e a oportunidade de conhecer a ilha logo na chegada.
Como não tínhamos pressa, decidimos sair só na hora de comer e tentar aproveitar o luau da Segunda Praia.

Para coroar um dia de stress e cansaço, fomos das uma volta no Centro e decidimos comer uma lagosta no restaurante Ponto de Encontro. Novamente ficamos decepcionados já que o prato era mal servido e mal temperado. Acabei perdendo uma grande chance de impressionar a minha mineira com uma comida chique.
Meia refeição e uma decepção depois, voltamos para o hotel e decidimos deixar o luau para a noite seguinte.
Nosso plano era passar três noites em Morro e por isso não havia pressa para nada.