sábado, agosto 28, 2004

Afastados do litoral

Nossa última manhã em Morro começou e terminou mais ou menos como nossa estada: devagar e sem muita graça.
Acordamos cedo, tomamos café, chamamos o carregador, pagamos a pousada e fomos em direção ao porto.
No caminho, lá da Segunda Praia, uma última olhada para um farol que provavelmente não teríamos oportunidade de rever.


O farol de Morro Posted by Hello

Antes de sair da ilha, eu tinha que fotografar um símbolo que me deixou satisfeito e crente que aquele lugar tinha salvação: a bandeira do Chile na frente de um restaurante só poderia ser um bom sinal para o resto da nossa viagem.


Boas influências na ilha de Tinharé Posted by Hello

Atravessamos a rua principal, o centro e passamos uma última vez em frente à igrejinha. Encontramos um monte de gente chegando e subindo a ladeira. Deviam ser turistas que vinham de Salvador e que passariam apenas o dia em Morro.
Isso me pareceu uma boa opção, mas teria sido melhor receber essa informação antes de chegar de mala e cuia na ilha. Quem sabe da próxima?


O adeus ao Portal Posted by Hello

Nossa passagem pelo portal e a partida do barco foram meio melancólicas.
Por mais que não houvesse muito espaço para reclamações (afinal de contas tudo funcionou perfeitamente durante os dias que passamos na ilha), ficou um gostinho meio esquisito de ter finalmente conhecido e não curtido um lugar muitas vezes sonhado, ao menos por mim.
Como a idéia era continuar curtindo a Bahia, demos um "bye" meio blasé para a ilha e nos concentramos em como chegaríamos a Lençóis, nossa próxima parada.


Até nunca mais, Morro de São Paulo Posted by Hello

A grande preocupação à partir da chegada a Valença seria o afastamento da BR101 e do litoral bahiano. Já havíamos passado mais bocados logo depois de deixar as estradas capixabas e a expectativa não era das melhores para o resto da viagem. Na verdade, a gente estava esperando um cecnário de guerra, mas não havia nada a fazer além de "sentar a bota" e gritar quando surgisse o problema. Afinal de contas, férias sem mico, só na Ilha de Caras.

Acho que estávamos de bom humor naquela manhã.
Isso explica nossa tranquilidade quando vimos o barco diminuir a velocidade e encostar em um lugar que não era nem de longe igual ao movimentado porto de Valença.
A explicação: com a maré baixa, o barco não conseguia fazer o caminho de volta e o acesso à cidade teria que ser feito por terra, de táxi. Tudo tranquilo para os viajantes cada vez mais descolados.
Alguns minutos e dois reais depois de atracarmos, já estávamos rumo ao movimentado e meio esquisito centro de Valença.
Depois do táxi só tivemos que achar o estacionamento, transferir as malas de lugar e seguir as placas para voltar à estrada.

A idéia inicial era sair de Valença e ir mais ou menos direto para a BR101, saindo perto da cidade de Presidente Tancredo Neves, mas uma curva errada em algum lugar nos levou para o norte, na direção de Aratuípe e Nazaré.
Felizmente nós conseguimos nos localizar com facilidade e chegamos à BR na altura de Santo Antonio de Jesus. Foi exatamente nesse ponto que tomamos mais uma trágica decisão nas nossas aventuras na Bahia: para economizar uma ida até Feira de Santana pela 101, resolvemos "cortar caminho" por estradas menores, indo em direção a Varzedo, Amargosa e Itaberaba, atravessando a BR116.

As estradas que encontramos entre Santo Antonio de Jesus e a 116 tinham sua qualidade variando do péssimo ao torturante, mas não havia como voltar atrás.
Felizmente nossa tolerância acabou no momento em que chegamos à velha conhecida BR116. À partir daí decidimos que valia a pena andar um pouco mais, mas andar. Dos arredores da cidade de Milagres seguimos para o norte até Argoim.


Típica estrada do interior da Bahia Posted by Hello

No caminho vimos um monte de cactos que pareciam plantados de forma propositalmente caótica. Na impossibilidade de definir se era uma fazenda ou se era apenas a "caatinga lascada", metemos o pé e fomos desviando dos buracos bissextos da BR.


O velho oeste americano? Posted by Hello

De Argoim até Itaberaba, a estrada estava uma maravilha: vazia e bem conservada.
Não demoramos muito até pararmos para reabastecimento e troca de pneus e voltarmos a viver a expectativa da Chapada.
Pena que a equipe de conservação da estrada não estava com a mesma pressa e não se importou de nos atrasar ainda mais com grandes buracos e pouco asfalto.
Foi exatamente esse cenário que nos mostrou mais uma característica nova: um monte de crianças jogando terra nos buracos e pedindo dinheiro (com o tradicional gesto de esfregar as pontas dos dedos de uma mão umas nas outras) em troca do "serviço de conservação rodoviária".
Achei aquilo meio bizarri demais e nem ensaiei parar para dar algo.

Quase chegando a Lençóis veio o último desafio: dezenas de crateras que nem os ônibus ousavam enfrentar. O assoalho do meu carro rangeu milhares de vezes a cada vez que eu roçava as pedras e a terra, mas graças ao Grande, conseguimos chegar na cidade sem nenhum pedaço a menos.

Foi fácil localizar a pousada Canto das Águas. Ela ficava logo depois da entrada da cidade, pouco antes da igrejinha.
Nem acreditamos na nossa sorte quando vimos onde passaríamos as noites seguintes.
O lugar era tão legal que servia perfeitamente como compensação para o stress que novamente as estradas bahianas haviam nos trazido.


Pousada Canto da Águas Posted by Hello


Mais um pouquinho da Canto das Águas Posted by Hello

Um passeio exploratório pela piscina e um bom banho foram suficientes para renovar as energias e nos colocar de novo em movimento. Desta vez a missão era descobrir um passeio para fazer nos dias seguintes. Tínhamos uma série de indicações mas não sabíamos que a baixa temporada tornaria tudo mais complicado: não havia gente para dividir os passeios e isso deixava os preços nas alturas.
Já estávamos desanimando depois de percorrer meia dúzia de agências quando a menina da Venturas & Aventuras nos animou ao dizer que estávamos incluídos em uma turma grande que faria um passeio a alguns lugares mais acessíveis à maioria dos turistas.
Nós aproveitaríamos o primeiro dia de um passeio de uma semana vendido pela agência e teríamos nosso primeiro contato com a Chapada. Isso nos daria uma idéia inicial do que enfrentar e também um pouco mais de tempo para decidir os próximos passos.

Definido o dia seguinte, passamos ao outro assunto da vez: comer.
Procurando um lugar acabamos tropeçando em outro e não nos arrependemos: a cantina Bella Itália se revelou muito simples mas muito gostosa. Infelizmente a cerveja estava quente, mas nada que estragasse nossa primeira noite no lugar mais desejado da viagem.
Cansadaços, mas satisfeitos, voltamos para a deliciosa pousada e dormimos como anjos, preparando o ânimo para o primeiro contato com algo que eu já havia feito inúmeras vezes acompanhado de Morfeu.