quarta-feira, setembro 13, 2006

A magia do colo

O dia pós-insolação começou cedo e não havia muito tempo para preguiça: nosso ônibus saía logo cedo e tínhamos que chegar logo à Rodoviária.
Tivemos pouco tempo para lamentar a falta de timing com relação às liquidações de inverno: elas haviam acabado duas semanas antes e nossas compras de casacões de neve ficariam para uma próxima oportunidade.

Antes de pegar a estrada, três observações:
1 - o país cheio de bandeiras (por conta das Fiestas Pátrias) tem um grande componente de patriotismo sim (que no Brasil eu só vejo em tempos de Copa do Mundo), mas tem também uma grande ajuda da legislação: as casas são obrigadas a ter uma bandeira na sua frente, sob risco do morador ser multado, e;
2 - Havia nos jornais e noticiários uma acalorada discussão sobre a distribuição gratuita da pílula do dia seguinte para meninas maiores de 14 anos. A distribuição da pílula se daria diretamente nas escolas, o que estava causando horror nas tradicionais famílias chilenas. Quem diria?
3 - mais uma sessão de besuntamento com hidratante para não sofrer demais durante a viagem com o ardor da pele queimada.

A viagem foi tranquila até Villa Alegre, assim como o trajeto de meia quadra entre o ponto de parada do ônibus e a casa da minha velha avó materna.
Chegamos lá, conversamos um monte e improvisamos um almoço de pamonha salgada e salada de alface e tomate: minha avó não tinha certeza do horário em que chegaríamos e não havia preparado nada mais consistente.
Mesmo assim, eu consegui matar a saudade do colo e fiquei tão perto da velhinha que a Minha Mineira deve ter sentido uma pontinha de ciúme.
Foi minha avó quem cuidou de mim quando eu tinha uns 3 ou 4 anos e minha mãe trabalhava fora da cidade. Ela passava vários dias longe de lá e com isso o caminho ficou aberto para a velhinha me ensinar a não comer gordura de bife, a comer pastel de choclo com açúcar e outras frescurinhas que me acompanham até hoje.
Bons tempos aqueles!



Villa Alegre de Loncomilla continuava praticamente como eu a havia deixado em 2004.
Indo um pouco mais além, ela não havia mudado muito desde 77 quando meu Tata morreu e eu parti.
Minha velha avó já não estava mais na casa grande e não havia mais a vinha para brincar, mas o lugar ainda guardava milhares de lembranças de um tempo em que só tinha que me preocupar em dar cabeçadas em quem me incomodava.
Isso incluía minha mãe e minha avó. Pobrezinhas.


Propriedade villalegrina típica


Enquanto minha avó e meu tio estavam em um funeral, nós fomos caminhando até a vinícola Carta Vieja para comprar algumas garrafas de tinto direto da fábrica. Isso não era estritamente necessário do ponto de vista prático, mas como o que importava era a simbologia, fomos felizes e acabamos sendo surpreendidos pela possibilidade de fazer um passeio pelas instalações, que não estavam a todo vapor devido à distância da época da colheita (fevereiro).
Eles não estavam lá muito preparados para receber turistas, mas ao mesmo fizemos um bom passeio e compramos algumas garrafinhas.


A sede da Carta Vieja



Vinhas em crescimento


Quando voltamos, minha avó e meu tio já estavam em casa, o que nos rendeu mais algumas horas de boa conversa.
Só paramos quando eu mencionei a vontade de tomar vinho pipeño, uma espécie de vinho caseiro pouco recomendado pelas autoridades sanitárias, mas muito apreciado no interior do país. Na mesma hora meu tio se ofereceu para ir às compras comigo.
Minha mineira ficou "conversando" com a minha avó e eu fui com ele até a casa de um amigo, notório distribuidor daquela maravilha líquida.

A expectativa era grande e foi plenamente satisfeita quando o proprietário, que se lembrava de mim com quatro anos de idade, nos serviu um par de copos como degustação.
A conversa estava boa e só conseguimos ir embora depois do quarto copo e só por que aproveitamos a chegada de um caminhão com uns 50 garrafões de 50 litros. Aquela compra massiva nos salvou do belo porre que já estava encomendado.

Voltamos, jantamos, vimos um programa de TV sobre a busca de esposas na Rússia por homens chilenos, nem sempre com resultados felizes, e fomos dormir.
O dia havia sido longo e o nível alcoólico favorecia a chegada de Morfeu.

Gastos:
Táxi - $ 5400,00
Vinhos - $ 10500,00

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