sábado, setembro 16, 2006

Paz

Queria dizer que já estava cansado de não fazer nada na casa da minha avó, mas felizmente isso não era verdade.
Eu estava adorando o processo de engorda que significava acordar tarde e fazer cinco refeições por dia.
Melhor que isso, só em um Royal Caribbean da vida.

O sábado não foi diferente e contou com a presença de outro tio que havia chegado de Santiago durante a madrugada. Só o encontramos na mesa do café, o que garantiu a comilança por bem mais do que uma hora.
O assunto principal da conversa, obviamente, foi comida e terminamos o café com o compromisso de fazer um risoto de calabresa para o almoço.

Para queimar algumas das milhares de calorias ingeridas no café da manhã, fomos dar uma volta na velha praça da minha infância, agora um pouco mais renovada e já sem a fonte, que já havia significado alguns acidentes nos meus primeiros cinco anos de vida, e o canhão.
No lugar deles, um cimentado marcando o centro da praça.


O centro da praça



O RG da praça


Uma das poucas novidades do local era uma homenagem ao poeta-mor da terra, Pablo Neruda.
Na verdade, a homenagem não estava bem na praça, mas sim a poucos metros dela, na calçada da agência dos correios.
O "Tintero de Neruda" era uma reprodução em concreto e metal de um pote de tinta e de uma pena que o poeta devia usar para compor suas obras.
Apesar do resultado meio duvidoso, achei que valeu pela intenção e pela homenagem.


O tinteiro


Como já é tradição nas vezes em que visito Villa Alegre, antes de voltar para a casa da minha avó, fomos ver a Casa Grande, que ficava ali pertinho.
Ela parecia melhor e mais bem cuidada do que em 2004.
Melhor para minhas memórias. Vivi muita coisa boa nessa casa, mas não tive coragem de pedir licença ao funcionário da Prefeitura e entrar. A casa já não era mais nossa, digo, da família, há alguns anos, mas as memórias ainda nos pertenciam e achei que entrar lá poderia mudar isso.
Optei pela segurança da distância e só tirei algumas fotos e contei algumas histórias para a Minha Mineira. Acho que algumas delas não eram lá muito verdadeiras, mas ela não se importou nem um pouco.


A Casa Grande


Antes de voltar para casa e esquentar a barriga no fogão, tiramos algumas fotos de uns vasos gigantes e de uns canteiros de flores que decoravam as calçadas. Tudo muito bonito e cuidado como não se vê muito aqui em Sampa.



O arroz não era arbóreo, a calabresa parecia mumificada, o fogão era mais velho do que eu e minha avó nos olhava de um jeito muito desconfiado, mas conseguimos vencer todos os desafios e preparamos o tal risoto para o almoço.
Não sei se foi desconfiança ou o que, mas por segurança, a minha avó preparou uma cazuela de pavo con chuchoca, algo como canja de peru com uma espécie de fubá, prato muito bom, por sinal.
Como para a gente não havia tempo ruim, comemos o risoto e a canja.
Vale registrar que minha velha avó ficou só na sopinha.

Depois de um sono rejuvenescedor, resolvemos caminhar um pouco até uma das entradas da cidade e visitar meu velho tata (avô) no cemitério local.
Nem me lembrava quantos anos haviam se passado desde a última visita, mas me senti bem percorrendo aquele caminho bonito e simples e localizando a gavetinha onde o corpo dele havia sido colocado quase 30 anos antes.
Sim, por que dele ali só havia o corpo. O resto devia estar em alguma vinha do Céu, cuidando da produção para algum figurão da Comissão Técnica do Céu.
De vez em quando sinto que ele segura as barras que não deixo ninguém mais tocar e relaxo bastante.
Gracias, Tata.



Na volta para casa, algumas fotos do pôr-do-sol e da igreja local, declarada monumento nacional alguns anos antes.





Fomos dormir assistindo ao primeiro Exterminador do Futuro e pensando na viagem e no encontro com a minha irmã e os sobrinhos.
Concepción e o Sul nos esperavam, mas sentiríamos saudade da velha e boa Villa Alegre.
Da minha avó, não. Ela estaria comigo durante toda a viagem, por isso não havia motivo para sentir saudades.

Um comentário:

gioconda disse...

Hijo leer lo que esta en estas páginas vi mi pasado . Te amo Gioconda