terça-feira, setembro 12, 2006

Primeira tentativa

Acordar às seis da manhã quando se está de férias e quando se visita um lugar no fim do inverno deveria ser proibido por leis internacionais e passível de prisão sem fiança ou apelação.
Como era a Minha Mineira quem havia solicitado esse esforço para ter sua primeira experiência com esportes de inverno, nada mais natural que eu fizesse valer a promessa que fiz lá em cima no altar e me livrasse das garras daquela cama que teimava em não me deixar sair em direção ao banheiro.

Pegamos nossa já velha conhecida Linha Vermelha do Metrô e fomos novamente até a Ski Total na estação Escuela Militar.
Desta vez já estávamos encaminhados e tivemos apenas que retirar nosso equipamento e entrar na van que nos levaria até El Colorado.

A viagem demorou cerca de 90 minutos em uma estrada não muito estreita e bem sinalizada. No início, o tempo não nos ajudou muito e havia muita neblina, mas depois de uma certa altitude, as nuvens ficaram para trás e o sol se abriu forte e bonito.
Aliás, essa é uma característica dessa estação: por estar a cerca de 3000 metros de altitude, sensivelmente mais alta do que a média da estações, poucas nuvens encobrem o lugar e é preciso um cuidado ainda maior com a proteção contra o sol.



Chegamos lá, nos situamos e fomos trocar de roupa no vestiário.
Nos sentimos bastante estranhos com aquelas botas duras e aquelas roupas grossas, mas demos um jeito e finalizamos a transformação.
Como não tínhamos muita idéia de como era o contato com a neve, acabamos reforçando nos agasalhos e só ao longo do dia fomos entender o quão errada seria essa decisão: as roupas de neve são muito quentes e mesmo que vc esteja sem nada por baixo, o suor será exagerado e qualquer roupa que estiver ali ficará encharcada.

Demoramos um pouco para chegar até o local da aula, a escola Los Zorros, e aguardamos alguns minutos até a chegada do professor. Justo quando ele chegou, me dei conta que precisava de pilhas para a máquina fotográfica e que havia perdido a chave dos armários que havíamos alugado para guardar nossas coisas.
Lá fui eu enfrentar a ladeira de neve que nos separava dos armários e, depois de muita busca e raiva, voltei para a aula com quase uma hora de atraso.
Tudo bem que parte desse atraso foi por conta do próprio professor, mas de qualquer maneira, ele não demonstrou muita satisfação por estar ali e nos deu uma aula bastante instrutiva e importante, mas bem pouco calorosa e gentil.



Depois de uma hora de pouca paciência, ele nos liberou para a pista de iniciantes (nosso pacote incluía o acesso a Colorado Chico, além do transporte e da aula) e nos desejou sorte. Deve ter desejado que quebrássemos a perna também, mas isso é uma liberalidade minha. De qualquer maneira, o que ele nos ensinou foi bastante útil, principalmente quando ficamos a ponto de quebrar uma ou ambas as pernas.

Antes de encarar a pista com nossos recém-adquiridos conhecimentos de esqui, paramos para comer uma pizza bastante razoável na lanchonete vizinha à escola de esqui, descansamos e só então partimos para o suicídio montanha abaixo.

Ao chegar ao início da pista, tivemos uma desagradável surpresa: por mais que o professor tivesse nos mostrado os rudimentos dos processos de tirar e colocar os esquis, de andar para frente e para o lado e de controlar a velocidade e a direção do trajeto, ele não mencionou nada sobre o mecanismo que nos levaria montanha acima, uma espécie de âncora amarrada a um cabo que ficava correndo sem parar como um teleférico e precisava ser agarrada com força para se chegar aos pontos onde começava a descida.



Logo na primeira tentativa de subir, tentei me sentar na âncora e caí. Fui arrastado por alguns metros e fiquei bem na trilha das pessoas que subiam.
Aos gritos o responsável pelo arrasto me indicou a melhor forma de me equilibrar e voltei ao início.
Obtendo finalmente um pouco da solidariedade tão necessitada pelos iniciantes, fui orientado a não me sentar no dispositivo, mas sim a encaixá-lo nas minhas pernas e me manter equilibrado.
Para minha surpresa, a orientação funcionou e lá estava eu subindo a montanha de neve, meio claudicante, é verdade, mas ainda assim subindo.

Logo depois eu tive mais uma experiência traumático no primeido contato com a neve: também não havia recebido orientações sobre como me desvencilhar da âncora e não esperei até estar no plano ou na descida para me soltar. Resultado: larguei a corda e comecei a descer, desesperado para parar e não ser atropelado por quem vinha atrás.
Depois de cair, tirar os esquis e me arrastar até o início da descida, consegui me juntar à Minha Mineira e nos preparamos para a parte fácil: utilizar nossas habilidades e descer a montanha.



Mal sabíamos nós que o pior estava para começar.
Enquanto ela se esforçava para ficar em pé, eu me joguei uma vez e desci o morro freiando como doido e cheguei lá embaixo.
Ela tentou, caiu, tentou, caiu e eu subi de novo para encontrá-la.
Novamente tive problemas ao sair do arraste, mas consegui chegar até onde ela estava e me concentrei em ajudá-la a descer.
Apesar dos meus esforços, o máximo que consegui foi torcer o joelho dela enquanto a ajudava a levantar e depois de mais uma dezena de tombos descontrolados, ela decidiu desistir e desceu a pista a pé.
Eu ainda desci mais duas vezes, sendo uma delas da parte mais alta da pista.
Como só tem medo quem sabe o que está fazendo, eu desci com a cara e a coragem e quase me matei umas três vezes. Caí de cara, de lado, de costas e depois de uns cinco minutos consegui chegar ao fim do trajeto que deveria durar, no máximo, um.

Com o corpo todo doendo fui encontrar a Minha Mineira que já estava passando meio mal de tanto sol e tombo.
Nessa hora entendemos que nosso maior problema não era não saber esquiar, mas sim não ter usado a dose correta de protetor solar. Além do cansaço, estávamos começando a lidar com o calor do rosto queimado e isso certamente nos traria problemas mais tarde.

Ainda faltavam 90 minutos para a saída da van, mas nenhum de nós tinha energia para mais nada. Ao invés de tentarmos descer novamente a montanha, tiramos a roupa de esqui, nos vestimos, colocamos o equipamento na van e ficamos ali apreciando a paisagem.
A Minha Mineira já dava os primeiros sinais de insolação, mas foi só no caminho de volta que a coisa pegou: ela passou mal e teve ânsias que obrigaram o motorista a parar e aguardar que ela se recuperasse.

Vim o caminho todo preocupado com ela, que trocou de lugar com uma brasileira que estava voltando do Atacama e havia praticado snow board na estação.
Voltamos à Ski Total, devolvemos o equipamento, nos despedimos dos brazucas que encontramos, inclusive de um curitibano que havia conhecido a namorada na Nova Zelândia e que havia se mudado para o Chile para ficar mais perto dela.
Como a Minha Mineira estava muito fraca, resolvemos pegar um táxi e voltamos para a casa do meu amigo em Providencia.

Ambos chegamos acabados no apartamento, mas ela estava pior e o princípio de insolação estava pegando, por isso a fiz tomar banho e se deitar, enquanto eu lhe servia soro caseiro (pela segunda vez desde que estamos juntos) e providenciava a hidratação do seu rosto com creme. Fiz isso por algumas horas até que ela adormeceu e eu fui ver "Nip tuck" na sala.
Depois de algum tempo, eu também fui dormir já que na manhã seguinte seguiríamos para o Sul.

Gastos do dia:
Metrô - $ 1840,00
Transporte - $ 16000,00
Armários - $ 6000,00
Almoço - $ 8500,00
Lanche - $ 3800,00
Bebidas - $ 1900,00
Táxi - $ 4500,00

2 comentários:

Gabriela Vicente disse...

Parabéns pelo blog, pelo português e redação, pelas fotos, descrições, etc... adorei, estou indo para o Chile em junho pela 1ª vez e já peguei várias dicas de passeio aqui com vc...
Obrigada e continue sempre!
Gabi.

E. Weight disse...

Olá Gabi,
Muito obrigado pela presença e pelos elogios.
Ando meio sem tempo para atualizar o blog ultimamente e tenho várias coisas para contar sobre a viagem ao Chile, mas se vc quiser mais dicas, me mande um e-mail que tento te ajudar no que puder, tá?
Cuide-se bem e faça uma boa viagem ao meu país natal. Tenha certeza que vale a pena. ;-)
Beijos.